sábado, 29 de dezembro de 2007

Abismos

Tenho olhos, boca, nariz, ouvidos e tacto.
Contudo, quem sou?
Tenho alma, filosofia, ética, bondade e malvadez.
Contudo, quem sou?
Tenho orgãos, tecidos, moléculas e sistemas.
Contudo, quem sou?
Diz-me, diz-me a verdade.
Contudo, conta-me quem sou. Faz as tuas magias.
Elabora o meu plano. Acalma a minha mente. Sinto-me em ressaca.
Sem plano ou memória. Sim, sou de pequenas frases. A minha mente corre e não a acampanho. Contudo, o que sou?
Falo a 100 à hora. Diz-me quem sou. Pedaço de matéria como sempre. Um canto qualquer num cérebro. Estático, extasiado. Vou gritar! Vociferar. Diz! Diz quem sou. Não mintas mais. Sinto-me bêbedo, louco a espumar. Preciso de segurança, saber que não vou enloquecer. Não quero sentir as correias, quero a liberdade! Anos e anos preso por detrás de normas, tabus e sociedades. Não devo contudo quero! Ahh, o turpor da mentira, da devassidão. Cada palavra que não deve ser dita. A alegria que é sentir-me livre e o pesar, sim o pesar. A cabeça que ligeiramente tomba a cada letra dita. O riso maléfico a cada tecla premida. Sou louco, temo-me a mim próprio. Cada vez mais paranóico. Sou alma perdida.
Contudo, diz-me quem sou.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Gestos

Poderia descrever quem sou, contudo não vou. Poderia ser milhares de números e muito mais que usos, mas na verdade sou apenas quem sou.
Afirmar personalidades, aquelas puras vontades. Verdade seja dita, quero apenas viver, escrever enquanto posso, amar e ser alguém.
Vou voar agora e ir mais além, tentar as sortes, viver no limite. Olho a cinzentos, ao metal da cidade e a rebentos.
Quando for a altura, aí definitivamente morrerei. Pode ser hoje ou décadas a fundo, até lá, vem cidade, encontra-te junto.