sexta-feira, 11 de abril de 2008

Na rua de Kobayashi

Ela sentira-se hesitante. Tudo na sua voz denotava confusão e insegurança. Seria acaso, ou infeliz infortúnio estar ali? Aqueles olhos negros qual água escura que a fitavam em expectativa. Queria dizer, fosse o que fosse, apenas para confortar o desespero que se enraizava nele, mas tudo o que lhe surgia era ausência. Os seus medos eram seus, as suas palavras para si. Independentemente da força, segurança ou até afecto que tentava transmitir-lhe, ela queria apenas confundir-se qual mestre de transparência.
– Tem, tem… tem a certeza?
Ainda que a verdade fosse tão inquestionável quanto a existência de gravidade, as esperanças não se abalavam por mais que o pêndulo dançasse. Esperava, sim fervorosamente esperava, por uma oportunidade mais. Queria ouvir o gato miar suavemente por entre as suas pernas, ouvir as tão embriagadas palavras dela ao seu lado, ouvir as ternas carícias dele por cima do seu ombro. O quanto se angustiava por eles.
– Acredite. Não há qualquer dúvida no que lhe digo. Poderá querer negar, acreditar numa aurora findado um pesadelo penoso, mas a sinceridade é esta.
Fora caloroso, calmo, compreensivo, tudo o que não desejasse que fosse. Apenas relembrava-lhe a realidade tão custosa de suportar. Os factos, tão ironicamente, alegres ou talvez felizes. Uma pessoa fora-lhe verdadeira! Dois lagos reais de um intenso negrume presentearam-na com uma sinceridade que, com relutância já não pretendia com qualquer ardor. Não, não havia retorno. Sentiu uma impotência chegar a proporções tais, uma frustração desimpedir caminho para uma separação que ameaçava não abandonar. O fim ocorreu como um socorro, abrupto mas definitivo.
- Desculpe, mas tenho mesmo que sair.
E com tal, o seu corpo nunca antes fora tão rápido, nunca antes tão ágil sobre tão escanzeladas pernas. Fugir, sim, fugir para um local bem longe onde pudesse respirar. Já à porta, ainda vislumbrou pelo canto do olho a culpa emoldurada no rosto dele, uma culpa deslocada no espaço, um sofrimento que não devia ser o dele. Contudo, ela não podia parar, não poderia sentir remorsos, sabia que eventualmente ele iria recuperar afinal estava na sua natureza, mas ela… Ela seria outra história. Os seus pensamentos não a abandonavam, a verdade ribombava-lhe aos ouvidos «Desapareceram! Todos desapareceram! Ela, ele, nem gato sequer! Que será de mim? Nunca estive sozinha, nunca experimentei a solidão e, e de uma só vez todos me abandonaram.».
Todas as suas “alucinações” desapareceram, sumiram num tempo e espaço para o qual nunca conseguiria alcançá-los de novo. Estava separada de tudo e de todos. O que muitos considerariam como uma bênção, ela agora chamava-lhe de maldição.
Os medicamentos tinham feito o seu propósito, estava curada.

3 comentários:

Å®t Øf £övë disse...

Leonor,
Por vezes os medicamentos dão-nos uma percepção errada da realidade.
Bjs.

Leonor disse...

Os medicamentos são tal e qual como tu dizes. Eles alteram a não só a percepção, mas como a própria realidade do nosso corpo. Até os mais fracos adormecem algo para nosso comodismo. Uns são realmente necessários, outros podem ser dispensados.

Anónimo disse...

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